ALGUNS TERMOS DA LINGÜÍSTICA HISTÓRICA
Expedito Eloísio Ximenes (UECE)
RESUMO
A Lingüística, no século XIX, teve como centro de suas investigações as mudanças diacrônicas ou históricas das línguas. Foi no início do século XX, com O Curso de Lingüística Geral (1916) de Ferdinand Saussure que se passou a estudar o aspecto sincrônico, estabelecendo-se, assim, a oposição entre diacronia versus sincronia.
Palavras-chave: lingüística, terminologia e latim.
A Lingüística Histórica é o ramo da Lingüística Geral que estuda o desenvolvimento das línguas e o seu processo de evolução em geral ou de uma língua em particular. “As línguas humanas não constituem realidades estáticas, ao contrário, sua configuração estrutural se altera continuamente no tempo. É essa dinâmica que constitui o objeto de estudo da Lingüística Histórica”. (Faraco, 1999:10).
A Lingüística histórica caracteriza-se também pela busca da origem das línguas. Através do método histórico-comparativo, foi possível se estabelecer uma língua - mãe, o indo-europeu, que seria o tronco lingüístico ou protolíngua de um grupo de línguas da Europa e da Ásia. O mesmo método aplicado às línguas românicas possibilitou o estabelecimento da origem comum destas línguas em uma protolíngua denominada latim vulgar.
Destacamos em nosso trabalho alguns termos usados no cenário dos estudos comparativos que denominam as mudanças das línguas, como também as denominações dadas para as etapas da língua latina.
Nossa pretensão, certamente, não é abarcar todos os termos que compõem o estudo histórico da lingüística, porém, coletarmos aqueles que aparecem com mais freqüência na literatura consultada.
Os termos estão organizados em três campos conceituais conforme as semelhanças e categorias semânticas. O primeiro aborda a tipologia de latim, o segundo, as variedades de línguas e o terceiro contempla os termos que nomeiam as mudanças históricas propriamente ditas.
Sabemos que a língua é dinâmica passando por transformações constantes, possibilitando um campo inesgotável de pesquisa. Cabe ao estudioso atentar para o desenvolvimento deste instrumento natural do ser humano e, se pretender fazer qualquer pesquisa, encontrará sempre um caminho aberto.
Abordagem sobre Lexicologia e Terminologia
A Lexicologia é o estudo do vocabulário geral das línguas. Esta disciplina aborda o estudo científico do léxico a partir de suas estruturas e regularidades morfológicas e semânticas. Sua principal tarefa é a definição de conjuntos de léxicos e a sistematização dos processos de criação e renovação lexicais. (Ferreira,1997:6).
A Lexicologia se interessa pelas unidades lexicais de que dispõe uma comunidade para comunicar-se mediante a língua. Os trabalhos lexicológicos tomam como objeto de estudo todas as palavras da língua geral.
A Terminologia é uma disciplina recente surgida pela força do desenvolvimento científico e tecnológico que caracteriza as sociedades modernas.
A parte mais concreta da Terminologia são os termos funcionais organizados em dicionários de domínio específico de uma ciência ou de uma disciplina.
Qualquer disciplina, e com maior razão, qualquer ciência tem a necessidade de um conjunto de termos, definidos rigorosamente, pelos quais ela designa as noções que lhe são úteis: este conjunto de termos constitui a terminologia. (Dubois 1973:586.)
A Terminologia se define ainda como o estudo de um campo de atividades no que diz respeito ao levantamento, descrição, processamento, apresentação e definição dos termos ou de unidades lexicais pertencentes a áreas especializadas de uso de uma língua ou de uma ciência.
A Terminologia se interessa pelo termo de que dispõe uma determinada área do conhecimento. Os trabalhos terminológicos tomam como objeto de investigação apenas as palavras de uma língua de especialidade.
A obra lexicológica parte da denominação e tem como fim a definição do léxico. É um estudo semasiológico, partindo do signo em busca de determinação do conceito. A obra terminológica parte de um campo conceitual amplo para se chegar a uma denominação. É um estudo onomasiológico, parte dos conceitos e busca os signos lingüísticos que lhe correspondem.
Percebe-se que a Terminologia e a Lexicologia, embora sendo áreas da Lingüística e mantenham qualquer relação de semelhança entre si, ambas apresentam objetos diferentes, o que caracteriza também produtos diferentes de cada uma dessas disciplinas. A Lexicografia, ciência aplicada da lexicologia, apresenta dicionários lexicográficos que são conjuntos dos léxicos gerais de uma língua, tais dicionários comportam várias significações do léxico. A Terminografia, disciplina aplicada da Terminologia, apresenta dicionários terminográficos que são conjuntos de termos técnicos de uma área do conhecimento, comportando definições restritas e sistemáticas de uso específico.
A unidade da Lexicologia é o léxico comum da língua que comporta polissemia. A unidade da Terminologia é o termo específico de uma área do conhecimento, que pelos menos em tese, deve apresentar apenas um conceito, eliminando-se toda ambigüidade. No trabalho terminológico, a definição consiste numa operação muito importante, pois é um enunciado que descreve um conceito e que permite distingui-lo dos outros conceitos no interior de um sistema de conceitos.
Metodologia da Pesquisa
Nosso corpus é constituído por textos que abordam a Lingüística Histórica publicados entre 1970 e 2000, composto por artigos, livros e dicionários.
Fizemos a seleção dos termos observando sua representatividade ou pertinência e a clareza dos contextos. Os termos selecionados foram transcritos em fichas simples contendo, em destaque, o termo específico e em seguida o seu contexto e a referência bibliográfica.
Muitos termos já se encontravam dicionarizados, os quais transcrevemos na ficha conforme o registro nos dicionários. Os que apareceram com mais pertinência utilizamos o número de fichas conforme a sua ocorrência.
Registramos mais de duzentos termos num total de quatrocentas fichas. Foram definidos duzentos termos selecionados com base nas informações contidas nas fichas. As definições foram elaboradas a partir dessas informações, seguindo as orientações da terminologia.
Organização do glossário
divisão em três campos conceituais.
Conforme nossa análise, os termos apreciados nesta pesquisa, podem ser agrupados em três campos conceituais, os quais se apresentam com as seguintes categorias:
1. Tipos de Latim: aborda as várias formas de denominação da língua latina, em diferentes fases dessa língua, conforme as denominações que eram dadas.
2. Variedades de Línguas: Contempla os termos que nomeiam as várias denominações das línguas ou de uma mesma língua e ainda as variações dessa língua.
3. Mudanças Históricas: Aborda os termos que denominam as transformações ocorridas nas línguas, nos aspectos fonético-fonológicos, sintático-semânticos e lexicais em um longo período de tempo, como também as inovações dessas línguas. Levando em consideração, aqui, sempre o aspecto histórico.
Com esta divisão pretendemos contemplar os processos de mudança, desde as línguas antigas anteriores ao latim, passando pelas transformações da língua latina e a formação das línguas românicas, abordando, principalmente, as mudanças da língua portuguesa.
Organização da Macroestrutura do Glossário
Os termos estão distribuídos em três campos semânticos. As entradas estão organizadas em ordem alfabética seguidas de informação gramatical conveniente.
Os termos sinonímicos têm entrada independente, sendo que só o primeiro da ordem de entrada apresenta definição, os demais, são registrados com as informações gramaticais e ao lado a forma sin., (sinônimo) e a remissiva ver., direcionando para o termo sinonímico já definido.
Os hiperônimos são definidos uniformemente sendo que seus hipônimos seguem a mesma orientação, mas mudam o termo genérico. O exemplo seguinte demonstra esta estrutura. assimilação: s.f. mudança ocorrida . . . assimilação regressiva: s.f. tipo de assimilação. . .
Para cada campo conceitual atribuímos um termo genérico ( + ) ou ( - ) flexível, conforme o esquema:
a) Campo conceitual : Tipo de latim; Variedades de línguas; Mudanças históricas.
b) Termo Genérico: Latim usado; língua usada; Processo de mudança que...; Processo de criação que... ; Fator que... Tipo que...
Alguns termos não são contemplados neste esquema por apresentarem caracteres diferentes, portanto, usamos outros arquilexemas convenientes.
Organização da microestrutura do Glossário
Quanto à microestrutura seguimos a orientação comum usada nestes glossários, que apresenta a seguinte estrutura:
Verbete {termo de entrada = categoria gramatical + gênero + definição ( +) ou ( - ) nota ( + ) ou ( - ) remissiva ( + ) ou ( - ) ocorrências.
A notação ( + ) ou ( - ) indica que a nota, a remissiva e as ocorrências poderão ou não aparecer. As ocorrências são referentes aos termos provenientes, principalmente do latim, que passaram por mudanças. Em muitos contextos utilizamos essas ocorrências para ilustrar as definições dos termos
Glossário
Apresentamos alguns termos que compõem o glossário compreendendo os três campos semânticos mencionados.
Tipos de Latim
latim arcaico. s.m. latim usado no Império Romano entre o século III. a. C. e o início do século I. a . C. Nota: manifesta-se em antigos textos literários - obras de Névio, Plauto, Ênio, Catão -, bem como em epitáfios e textos legais.
latim clássico. s.m. latim usado no Império Romano florescendo a partir do segundo quartel do século I. a . C. quando são compostas grandes obras literárias em poesias e prosa como as obras de Cícero, Virgílio, Horácio, Tito Lívio e numerosas outras figuras de relevo. Nota: caracteriza-se pelo apuro do vocabulário, pela correção gramatical, pela elegância do estilo, numa palavra, por aquilo que Cícero clamava com propriedade urbanita. Sin.: latim escrito.
latim coloquial. s.m. latim usado por várias camadas da população romana, incluindo a aristocracia e, principalmente, o povo que não teve acesso à cultura escolar. Nota: era uma espécie de denominador comum, que se sobrepunha às gírias (jargões) das várias profissões, como um instrumento familiar de comunicação diária. O latim coloquial é para muitos, o proto-romance, isto é,o ponto de partida da formação das línguas românicas. Com a criação do método comparativo de Diez, ficou claro que as línguas românicas se originaram do latim coloquial. Sin. latim vulgar; latim falado; latim corrente; sermus usualis; sermo vulgaris.
latim escrito. s.m.ver latim clássico.
latim literário. s.m. latim usado no Império Romano relativamente estável como língua da escrita e como língua falada em todas as situações formais.
latim pós-clássico. s.m. latim usado nas obras literárias compostas entre os séculos I e V de nossa era. Nota: embora ainda surjam textos de grande valor, a língua começa a perder a pureza e a perfeição que haviam caracterizado no período anterior.
latim pré-histórico. s.m. latim usado pelos habitantes do Lácio, anterior ao aparecimento dos documentos escritos.
latim proto-histórico. s.m. latim usado para registrar os primeiros documentos oficiais. Nota: São exemplos dessa fase as inscrições encontradas na fábula de Preneste - uma fivela do século VIII ou Vi a. C. - no cipó do Fórum - provavelmente do século VI a . C. - e no vaso de Duenos, de fabricação um pouco mais recente, talvez do século IV. a . C.
latine loqui. s.m. latim usado na escola conhecido como latim culto.
sermo urbanus. s.m. ver latim coloquial.
sermo usuallis. s.m. ver latim coloquial.
sermo vulgaris. s.m. ver latim coloquial.
Variedades de Línguas
adstrato. s.m. língua falada que coexiste com outra no mesmo espaço territorial, influenciando-a e dela recebendo influência, porém nenhuma delas é assimilada pela outra. Nota: diz-se, por exemplo, que o espanhol é o adstrato do português brasileiro (tomado este como referência ) nas regiões da fronteira Brasil / Uruguai.
barbarice loqui.s.f. língua falada pelos povos bárbaros de origem não românica que se opunha à romanice loqui.
estrato. s.m. língua que sobrevive ao contato com outra língua quer substrato quer superestrato. Nota 1: desse contato resulta a progressiva assimilação das línguas de substrato quer superestrato. Nota 2: o português, o galego, o leonês, o castelhano, o aragonês e o catalão são línguas descendentes relativamente ao latim vulgar ibérico.
língua ascendente. s. f. língua da qual se origina outra ou um grupo de línguas. Nota: o latim é considerado a língua ascendente ou língua mãe, do português, do francês, italiano, espanhol, romeno, catalão, dalmático,rético, provençal e sardo. Sin. língua mãe, língua de origem.
língua de origem.s.f. ver língua ascendente.
língua descendente. s.f. língua ou grupo de línguas originada da evolução de uma língua comum que é a língua mãe de origem. Nota: as línguas neolatinas ou românicas não originaram do latim clássico, mas de uma outra variedade de latim conhecida como latim vulgar. são tradicionalmente conhecidas 10 línguas consideradas neolatinas: o português, o espanhol, o catalão, o francês, o provençal, o italiano, o reto romano ou rético, o dalmático, o romeno e o sardo. Todas estas línguas conservam vestígios indeléveis de sua filiação ao latim no vocabulário, na morfologia e na sintaxe. Alguns autores citam o galego e o franco-provençal como línguas românicas, outros não chegam a mencioná-las. Sin.: língua românica; novilatina
língua extinta. s.f. língua que desapareceu sem deixar memória documentada. Nota: um exemplo de língua extinta é o indo-europeu.
língua indo-europeu. s.f. língua hipotética reconstituída pelos estudiosos dos século XIX, através do método comparativo que possibilitou estabelecer o parentesco de um grupo de línguas originadas desta língua. Sin.: língua remota.
língua irmã. s.f. língua ou grupo de línguas que se originam pela evolução divergente a partir de uma mesma língua antiga, dita língua mãe. Nota: o português, o francês, o italiano, o espanhol, o sardo são línguas irmãs vindas do latim.
língua mãe. s.f. ver língua ascendente.
língua materna. S.f. língua nativa do sujeito que foi adquirida naturalmente ao longo da sua infância e sobre a qual ele possui intuições quanto à forma e uso.
língua morta. s.f. língua que deixou de ser usada como língua materna. Nota: o latim é considerado língua morta porque não é mais uma língua falada, muito embora se estude esta língua em seu aspecto escrito.
língua neolatina. s.f. língua originada diretamente do latim, formada após o estágio intermediário dos vários romances. Sin.: língua românica; novilatina
língua novilatina. s.f. ver língua neolatina
língua remota. s.f . ver língua indo-européia.
língua românica. s.f. ver língua neolatina
língua sânscrita. s.f. língua clássica dos antigos hindus utilizada como língua sagrada do veda. Nota: os hindus iniciaram o estudo de sua língua cerca do século IV a . C., por motivos religiosos. Depois, Pãnini, o mais célebre gramático hindu, juntamente com outros gramáticos dedicaram-se ao estudo do valor e do emprego das palavras e fizeram de sua língua, com precisão e minúcia admiráveis descrições fonéticas e gramaticais que são modelares no gênero. No século XVI, o sábio italiano, Filippo Sasseti, foi o primeiro a chamar a atenção dos ocidentais para a existência da língua sânscrita, assinalando, ao mesmo tempo, a grande semelhança que havia entre algumas palavras desse idioma e o italiano. Em fins do século XVIII, intelectuais europeus iniciaram, em meio a uma conjuntura de crescente interesse pelas civilizações antigas, o estudo do sânscrito.
língua viva. s.f. língua usada como instrumento diário de comunicação entre os indivíduos de uma nação.
proto-língua. s.f. língua que constitui um tronco comum de uma família de línguas. Nota: o latim é a proto-língua em relação as línguas neolatinas. ( fala-se em proto-indoeuropeu ) ou subfamília proto-germânico ).
proto-romance. s.m. língua usada por um grupo de pessoas de cultura inferior à clássica. Nota: o proto-romance não foi uma língua escrita, pois as pessoas por menor que fosse a sua cultura procuravam escrever usando a variedade culta reforçando uma tendência de imitar os modelos clássicos. Também é incorreto identificar o proto-romance com o latim falado, já que na sociedade romana se falaram outras variedades de latim.
ramo lingüístico. s.m. língua ou conjunto de línguas constituído de uma origem comum, embora que separados em datas posteriores.
romance loqui. s.f. língua usada pelo povo conhecida como falares vulgares de origem latina que se opunha à barbarice loqui. Nota: os habitantes do Dácia, isolados entre povos eslavos, autodenominaram-se romani e os réticos se autodenominaram romauntsch, para distinguir-se dos povos germânicos que os haviam empurrado contra a vertente norte dos Alpes suíços.
romance. s.m. língua usada pelo povo, tipicamente falada, aprendida como primeira língua e presente em todas as atividades diárias, mas sem acesso aos documentos escritos. Nota: o romance é uma espécie de língua intermediária entre o latim vulgar e as línguas neolatinas. Não se pode precisar a época exata da formação dos romances, nem a do desaparecimento do latim vulgar. Segundo Grandegent, o período deste estende-se do ano 2000 a . C. até pouco mais ou menos o de 600 da era cristã. Só então é que aparecem os romances.
românia. s.f. difusão da cultura românica em vários territórios distinguindo assim duas culturas: a românica e a barbárica.
romanização. s.f. difusão da língua latina através das escolas, dos documentos, dos comerciantes, da força do exército, pelo teatro e outros meios para todas as partes conquistadas pelo Império Romano. Nota: não é difícil imaginar a maior ou menor rapidez da força da romanização e, nessa força, a difusão do latim. A seu favor o fato de ser a língua oficial da nova província: nenhum documento público era vazado em trácio ou ilírio ou celta ou lusitano; os soldados e os comerciantes encarregavam-se de uma larga propagação, com as “ coisas “ vão as “ palavras ”, o teatro e a escola integravam a população indígena à nova cultura e, afinal, o latim era o meio normal da distinção e ascensão social. Sin.: romanice.
sânscrito. s.f. ver. língua sânscrita.
substrato. s.m. língua usada antes por uma população que foi abandonada e suplantada por outra, por vários motivos: conquista, posse ou colonização da terra por outro povo. Nota: os falares célticos utilizados na Gália antes da conquista romana nos territórios que hoje constituem a França foram substituídos pelo latim, são exemplos de substratos.
superestrato. s.m. língua usada por povos conquistadores que introduzida na área conquistada não substitui a língua dos povos conquistados, podendo com o tempo vir a desaparecer, deixando-lhes alguns traços. Nota: depois das grandes invasões, as línguas germânicas acabaram por desaparecer, mas exerceram sobre o romance uma influência léxica e sintática que não é de menosprezar. Esses povos posteriormente adotaram o latim como língua.
Mudanças Históricas
abaixamento. s.m. processo de mudança em que um segmento fonético se altera de mais alto para menos alto ou de menos baixo para mais baixo. Sin.: abertura.
abertura. s.f. ver abaixamento.
abreviação. s.f. processo de mudança em que há suspensão de um segmento da palavra reduzindo-a. Nota: nas palavras metropolitano, fotografia, pneumático houve abreviação para metro, foto, pneu, respectivamente.
acrescentamento. s.m. processo de mudança em que um novo segmento fonético passa a ser articulado em posição inicial, medial ou final de palavras.
adaptação de empréstimo. s.f. processo de mudança que ocorre pela transparência de uma forma estrangeira para outra língua em que a forma transferida sofre uma reestruturação em função do sistema fonológico, morfológico e/ou lexical que a transferiu.
adição de regra. s.m. processo de mudança que ocorre quando há um acréscimo de uma regra na gramática de uma língua. Nota: a adição de regra contribui para a complexificação da gramática.
adoção de empréstimo. s.f. processo de mudança que ocorre pela transferência de uma forma estrangeira para outra língua sem que a forma transferida sofra qualquer mudança significativa.
aférese. s.f. processo de mudança que ocorre quando há a supressão de um segmento fonético em posição inicial de palavra. Nota: a aférese é, às vezes, devido a uma confusão com o artigo: assim se explica a formação das palavras portuguesas botica e bodega (do grego apothéka, “lugar de depósito, armazenamento”). Historicamente a palavra latina episcopu passou para o português como bispo perdendo assim , o fonema [ e ] inicial .
aglutinação do artigo. s.f. processo de mudança que ocorre pela composição de uma palavra nova formada a partir da fusão do artigo definido que precede um nome, passando a ser interpretado como uma forma única.
aglutinação. s.f. processo de mudança que ocorre pela composição de uma palavra nova formada a partir da fusão dois ou mais itens lexicais ou gramaticais. Nota: a aglutinação funde esses itens numa nova forma cuja constituição tende a tornar-se invisível. Podem ser atingidas por processos de aglutinação palavras que ocorrem freqüentemente juntas num sintagma. Exemplo: em boa hora = embora.
analogia irregular. s.f. processo de mudança que ocorre pela criação de entidades lingüísticas a partir de formas isoladas, independentemente das classes ou paradigmas gramaticais a que as mesmas pertencem. Nota: são tipo de analogia irregular, por exemplo, a contaminação, a etimologia popular ou cruzamento.
analogia proporcional.s.f. processo de mudança que ocorre pela criação de entidades lingüísticas que opera na base de um “ modelo proporcional”, generalizando um padrão de relação morfológica entre dadas formas que previamente não se estruturavam de acordo com esse padrão. Sin. : extensão analógica.
analogia regular. s.f. processo de mudança que ocorre pela criação de entidades lingüísticas que afetam potencialmente classes inteiras de palavras. Nota: a analogia proporcional e a unificação analógica são tipos de analogia regular.
analogia. s.f. processo de mudança que ocorre pela criação de entidades lingüísticas à imagem de uma outra entidade do mesmo nível, numa dada língua. Nota: para os neogramáticos a analogia é um fator psicológico baseado nas leis de associação de idéias. Segundo eles, as línguas são faladas por pessoas e pessoas, fazem associações, portanto estabelecem relação de semelhança entre as línguas.
anaptixe. s.f. processo de mudança que ocorre pelo acrescentamento de uma vogal em posição medial à palavra desfazendo um grupo consonantal. Nota: observamos a palavra bratta que passou a blatta e pelo acréscimo da vogal desfez-se do grupo tttconsonantal Br e passou a barata. Sin.: suarabácti
apócope. s.f. processo de mudança que ocorre pela supressão de um seguimento fonético em posição final da palavra. Nota: pela apócope há uma redução da palavra. O francês e o português metrô, cinema, foto, vêm por apócope, de metropolitano, cinematógrafo e fotografia.
apofonia. s.f. processo de mudança que consiste na transformação da vogal inicial de uma palavra quando lhe é acrescentado um prefixo. Nota: a palavra barba acrescida do prefixo in torna-se imberbe. Sin.: deflexão.
assimilação adjacente. s.f. tipo de assimilação que ocorre quando um segmento se altera por influência de outro que lhe é contíguo.
assimilação consonantal. s.f. tipo de assimilação que ocorre quando o fonema assimilado é uma consoante. Nota: citamos como exemplos o pronome latino ipse, havendo a assimilação do fonema consonantal /p/ por /s/, tornou-se em ESSE.
assimilação. s.f. processo de mudança que consiste na passagem de um fonema para outro devido a aproximação e à semelhança de traços articulatórios entre eles. Nota: existem vários tipos de assimilação, por exemplo assimilação vocálica, consonantal, total, parcial dentre outros. A assimilação desempenha um papel muito importante na evolução das língua
atração analógica. s.f. processo de mudança que ocorre pela influência de significado exercido pelas formas, construções ou paradigmas que funcionam como modelo para aquelas formas que sofrem mudança analógica.
atração paronímica. s.f. processo de mudança que ocorre pela atribuição de significado entre duas palavras que historicamente não apresentam parentesco, mas apresentam alguma semelhança formal entre si. Nota: o sentido de “notável” que se dá muitas vezes a emérito é devido à atração paronímica de mérito. Portanto, a atração paronímica é um fenômeno de etimologia popular que aproxima empregos equivalentes a palavras que se aproximam pela forma.
atração. s.f. processo de mudança que ocorre pelo deslocamento de um fonema não integrado a um sistema fonológico para outras zonas do sistema onde ocupa um espaço vazio e aumenta o seu grau de integração. Nota: a atração também é uma modificação morfológica que sofre uma palavra sob a influência de outra palavra com a qual está sintaticamente em relação. Em português, há uma atração de número, quando o sujeito é um demonstrativo ou um indefinido neutro e o predicativo é um substantivo no plural. Ex. tudo são flores por tudo é flores. Isto são ossos do ofício por isto é ossos do ofício.
calco. s.m ver calque.
calque. s.m. processo de mudança que ocorre pelo empréstimo lexical de uma língua estrangeira que se apresenta com significado e estrutura semelhantes aos elementos nativos da língua original. sin. Calco, decalque.
consonantização. s.f. processo de mudança que ocorre quando um segmento vocálico se transforma em consoante. Nota: dão-se casos de consonantização com as semivogais i e u, que passam respectivamente a j e v. Exemplos: iam / já, vagare / vagar.
crase. s.f. processo de mudança que ocorre devido à queda de uma consoante intervocálica, havendo após, a fusão de duas vogais contíguas. Nota: as palavras latinas pede e nudu passaram a pee e nuu respectivamente, depois a pé e nu em português, através da supressão da consoante intervocálica d em ambas as palavras e a assimilação da vogais contíguas constituindo a crase. Só há, modernamente crase em português, quando concorrem a preposição a e os demonstrativos aquele, aquela, aquilo, aqueles, aquelas ou a mencionada preposição e o artigo feminino a .
debilitação. s.f. processo de mudança que ocorre quando há enfraquecimento do esforço dispendido na articulação de um segmento fonético chegando até a ser suprimido. Nota: certos contextos, como por exemplo as consoantes intervocálicas propiciam o fenômeno de enfraquecimento ou desaparecimento. No celta antigo, as consoantes intervocálicas sofreram esse processo de debilitação. Muitas palavras latinas na passagem para o português como pede, nudu, luna com a debilitação das consoantes intervocálicas transformaram-se em pé, nu, lua respectivamente. Sin.: lenição; lenização; abrandamento; mutação.
decalque. s.m. ver calque.
desfonologização. s.f. processo de mudança que ocorre pela perda de uma distinção fonológica. Nota: a duração ou quantidade das vogais era um traço distintivo no latim arcaico, mantendo-se no latim clássico. no latim vulgar e nas línguas românicas já não é mais um traço distintivo. A perda da duração produz variantes livres ou estilísticas, mas não basta para distinguir palavras com significações diferentes.
dessonorização. s.f. processo de mudança que ocorre quando há perda do traço sonoro ou vozeado de um som, em conseqüência da sua situação contextual. Nota: em inglês, as consoantes sonoras / b / e / d / sofrem esse fenômeno em posição final de palavra. A dessonorização é simbolizada por um pequeno círculo debaixo da transcrição.
epêntese. s.f. processo de mudança que ocorre quando há acréscimo de um segmento fonético em posição medial da palavra. Nota: há epêntese nas palavras estrela, areia, inverno oriundas do latim Stella, área, hiberno respectivamente.
forma convergente. s.f. processo de criação de duas ou mais palavras de aspectos iguais, mas vinda de étimos diferentes. Sin.: forma homeotrópica.
metaplasmo por aumento. s.m. tipo de metaplasmo que ocorre quando há soma de segmentos fonéticos à palavra.
metaplasmo. s.m. processo de mudança que ocorre quando há transformação fonética, constituindo na alteração e na forma de uma palavra através de supressão, adição, permuta ou transposição dos fonemas.
nasalação. s.f. processo de mudança que ocorre quando há uma conversão de um segmento vocálico oral para um segmento em contexto de consoante nasal. Sin.: nasalização.
nasalização. s.f. ver nasalação.
palatização. s.m. processo de mudança que ocorre quando os sons vocálicos ou consonantais alteram o seu ponto de articulação palatal. Nota: a palatização depende do contexto, isto é, corresponde a um fenômeno de assimilação.
sinérese. s.f. processo de mudança que ocorre quando há fusão de duas vogais contíguas num ditongo.
sístole. s.f. processo de mudança que ocorre quando há uma transposição de acento tônico de uma sílaba para a anterior. Nota: são exemplos de sístole as palavras erámus > éramos; amassémus > amavissémos > amássemos.
velarização. s.f. processo de mudança que ocorre quando há a produção de sons velarizados pela articulação da língua que se move em direção ao palato mole. Nota: o / l / final de sílaba, em português é uma consoante labial alveolar velarizada.
Conclusão
Abordamos aqui os termos que compõem o aspecto histórico das línguas aos quais demos um tratamento normativo orientado pelas normas técnicas da terminologia.
Propusemo-nos a elaborar um glossário da Terminologia da Lingüística histórica atribuindo definições para os termos que acompanham o processo de transformação das línguas. Sabemos que não é um trabalho completo, nem tem pretensão de sê-lo, porém, atingimos nosso objetivo que é iniciar uma pesquisa mais ampla.
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